Artrose no joelho: O que é, como evolui e quais tratamentos funcionam?
- Milton Linhares Junior
- 9 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 17 de abr.
A artrose do joelho, também chamada de osteoartrite, é a forma mais comum de doença articular degenerativa e uma das principais causas de dor crônica e limitação funcional em adultos. Estima-se que mais de 250 milhões de pessoas no mundo sofram com a condição, segundo a OMS. Ela afeta especialmente pessoas com mais de 45 anos, com maior prevalência em mulheres.
Como evoluiu o entendimento da artrose?
Por muitos anos, a artrose foi considerada apenas um “desgaste da cartilagem”. Hoje, sabe-se que ela também é uma doença inflamatória crônica de baixo grau, que afeta toda a articulação, incluindo os ossos subcondrais, a sinóvia, os ligamentos e até a musculatura ao redor. O processo envolve desequilíbrio entre degradação e reparo da cartilagem, além de alterações biomecânicas e bioquímicas progressivas.
Além disso, os avanços em ressonância magnética e no entendimento da patologia permitiram identificar estágios mais precoces da doença, o que abre espaço para condutas preventivas mais eficazes.
Quais são as principais causas e fatores de risco?
Idade avançada: fator de risco mais importante;
Histórico de trauma ou cirurgias no joelho, como lesões de menisco (principalmente as que precisaram de meniscectomia) e lesões ligamentares;
Desalinhamentos (varo ou valgo): aumentam a sobrecarga assimétrica;
Obesidade e sobrepeso: aumentam a carga sobre a articulação;
Predisposição genética e hormonal;
Atividades laborais ou esportivas de repetição e impacto.
Quais os sintomas mais frequentes?
Dor que piora com o movimento e melhora com o repouso;
Rigidez ao levantar ou após longos períodos sentado;
Estalos, inchaço e limitação para caminhar, subir escadas ou agachar;
Em fases avançadas, deformidades visíveis e encurtamento da marcha.
Como é feito o tratamento da artrose do joelho?
O tratamento deve ser individualizado e baseado em três pilares: educação, exercício e alívio da dor.
🔹 Primeira linha (recomendada por todos os consensos):
Fisioterapia com fortalecimento muscular e reeducação funcional;
Perda de peso (se houver sobrepeso);
Ajustes posturais e modificações nas atividades de impacto;
Uso racional de analgésicos e anti-inflamatórios;
Educação do paciente sobre autocuidado e progressão da doença.
🔸 Infiltrações com produtos de medicina regenerativa: ácido hialurônico, PRP e gordura microfragmentada
Apesar de serem amplamente divulgadas como tratamentos modernos para artrose do joelho, essas terapias ainda não têm recomendação universal nos principais consensos internacionais, devido à variabilidade dos resultados obtidos em estudos clínicos de alta qualidade.
O último guideline da OARSI (2023) não recomenda o uso rotineiro de ácido hialurônico, PRP (plasma rico em plaquetas) e derivados celulares, citando inconsistência nos benefícios clínicos observados em grandes populações.
Da mesma forma, a AAOS (2021) considera que não há evidência científica suficiente para apoiar seu uso universal, embora reconheça que, em casos selecionados — como pacientes com artrose leve a moderada e bom controle muscular —, essas infiltrações podem proporcionar alívio sintomático de curto prazo.
Além disso, é importante destacar que, no Brasil, o uso do PRP em doenças osteoarticulares só é autorizado em ambiente de pesquisa, conforme regulamentação da Anvisa e pareceres do Conselho Federal de Medicina. Ou seja, a sua aplicação rotineira na prática clínica ainda não está liberada como procedimento assistencial padrão.
Portanto, esses tratamentos podem ser indicadas em situações específicas, desde que respeitados critérios clínicos bem definidos. A escolha do tipo de substância deve considerar o perfil do paciente, o grau da artrose e o estágio da doença. Por exemplo, em fases inflamatórias agudas, o uso de corticoide intra-articular pode ser mais adequado. Essas terapias, portanto, não devem ser utilizadas como regra, mas sim como parte de uma abordagem individualizada e baseada em evidências.
Prótese de Joelho: Quando é Indicada e Quais os Resultados?
Quando os sintomas da artrose são persistentes, a dor limita atividades básicas do dia a dia (como caminhar, subir escadas ou dormir bem) e os tratamentos conservadores já não oferecem melhora suficiente, a cirurgia de prótese total de joelho se torna uma opção viável e altamente eficaz.
Essa cirurgia substitui as superfícies danificadas da articulação por componentes metálicos e de polietileno, com o objetivo de restaurar o alinhamento, eliminar a dor e recuperar a função.
De acordo com dados da American Association of Hip and Knee Surgeons (AAHKS) e da própria SBCJ, cerca de 90% dos pacientes operados relatam melhora significativa da dor e da qualidade de vida nos meses seguintes à cirurgia. A sobrevida dos implantes modernos também é alta: mais de 85% das próteses duram 15 a 20 anos ou mais, especialmente com bom acompanhamento e cuidados pós-operatórios.
Mas é importante deixar claro:
A prótese é uma cirurgia de médio a grande porte, com necessidade de anestesia e internação hospitalar;
O processo de reabilitação pode durar de 3 a 6 meses, exigindo fisioterapia intensiva e adaptação gradual;
Como todo procedimento cirúrgico, existem riscos associados, como infecção, rigidez ou trombose, embora sejam minimizados com cirurgião capacitado e manejo clínico e de reabilitação adequados.
Por isso, a decisão deve ser compartilhada entre médico e paciente, considerando o grau de limitação, a idade, o nível de atividade desejado e os riscos individuais (comorbidades).
Conclusão:
A artrose não tem cura, mas possui controle. O sucesso do tratamento depende de diagnóstico precoce, orientação profissional adequada e comprometimento do paciente com as mudanças propostas. Desconfie de soluções milagrosas. O melhor caminho é sempre uma abordagem baseada em evidências e ajustada à sua realidade.