Tenho lesão no menisco. Preciso de cirurgia?
- Milton Linhares Junior
- 9 de abr.
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Atualizado: há 1 dia
A lesão do menisco é uma das causas mais frequentes de dor no joelho, tanto em atletas quanto em pessoas sedentárias. Quando um paciente recebe esse diagnóstico, é comum que surjam dúvidas e preocupações sobre a necessidade de cirurgia. A resposta é: nem toda lesão meniscal precisa ser operada, e o avanço das pesquisas tem reforçado a importância de uma abordagem individualizada, pois as características da lesão e do paciente que a tem é o que definirá a conduta.
O que é o menisco e qual sua função no joelho?
O menisco é uma estrutura fibrocartilaginosa presente entre o fêmur e a tíbia, funcionando como uma espécie de amortecedor natural. Ele ajuda a distribuir as cargas durante os movimentos, estabilizar a articulação e proteger a cartilagem. Cada joelho possui dois meniscos: o medial (do lado de dentro do joelho) e o lateral.
As lesões podem ocorrer por trauma (em adolescentes e adultos jovens, geralmente associadas ao esporte) ou por degeneração (mais comum, frequente em pacientes com mais de 40 anos). Os sintomas mais relatados incluem:
Dor localizada, principalmente ao agachar ou girar o joelho;
Inchaço e limitação da amplitude de movimento;
Estalidos, bloqueios ou sensação de joelho “travando”;.
Quando não preciso da cirurgia?
Segundo o consenso da ESSKA (2017), corroborado por evidências como o estudo de Katz et al. (2013) no New England Journal of Medicine, pacientes com lesões meniscais degenerativas e sem sintomas mecânicos importantes devem iniciar com tratamento conservador. Essa conduta inclui:
Fisioterapia direcionada, com foco em fortalecimento de quadríceps, glúteos e core;
Modificações nas atividades que causam dor;
Uso de medicações analgésicas e anti-inflamatórias, quando indicadas;
Infiltrações intra-articulares em casos selecionados.
Em mais da metade dos pacientes com lesões degenerativas simples, a melhora clínica é significativa com reabilitação adequada, especialmente se o alinhamento do joelho estiver preservado e não houver instabilidade ligamentar associada.
E quando que precisa operar?
Nem todas as lesões meniscais são iguais, e cada paciente apresenta uma demanda funcional e condições associadas distintas, como lesões do ligamento cruzado anterior (LCA) ou desalinhamentos do joelho. Considerando apenas a rotura meniscal isolada, a decisão por tratamento cirúrgico depende principalmente do tipo de lesão, sua localização e estabilidade. A seguir, estão os tipos de lesões que mais frequentemente podem exigir intervenção cirúrgica:
Lesão em alça de balde (bucket-handle):Tipo instável, onde o fragmento deslocado pode causar bloqueio do joelho.
Lesão radial completa: Interrompe a continuidade das fibras e prejudica a função meniscal. Geralmente exige sutura ou ressecção do fragmento instável.
Lesão complexa com flap instável: Pode se prender na articulação, provocando dor aguda e estalos.
Lesões traumáticas em zona vermelha (bem vascularizada):Podem ser tratadas com sutura, especialmente em pacientes jovens e ativos.
Lesões que tendem a ser tratadas de forma conservadora:
Lesões horizontais degenerativas:Associadas a sobrecarga crônica, comuns em pacientes acima dos 40 anos, sem travamento.
Lesões pequenas e periféricas assintomáticas: Podem cicatrizar espontaneamente ou se tornar assintomáticas com reabilitação.
Lesões associadas à artrose leve ou moderada:Em muitos casos, o controle da inflamação e o fortalecimento muscular são suficientes para alívio dos sintomas.
Como é a cirurgia do menisco?
A cirurgia costuma ser feita por artroscopia (cirurgia por vídeo), com anestesia do tipo raqui. Existem dois principais tipos de procedimento:
Sutura/reparo meniscal: Tenta preservar o tecido e restaurar a anatomia, indicada principalmente em lesões agudas, em zonas bem vascularizadas.
Meniscectomia parcial: Quando a lesão não é reparável, remove-se apenas o fragmento instável, preservando o máximo de tecido possível.
Quando a lesão meniscal está associada a outras patologias, como a ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA), o tratamento costuma ser realizado em um único tempo cirúrgico, com a reconstrução do LCA e a abordagem simultânea do menisco, seja por meio de sutura (reparo) ou meniscectomia parcial.
A decisão pelo tratamento deve ser tomada de forma conjunta entre médico e paciente, considerando o estilo de vida, as expectativas funcionais e as características da lesão.
Conclusão: Cirurgia não é regra, é exceção bem indicada
Nem todo menisco rompido precisa de cirurgia. A maioria das lesões degenerativas pode ser tratada sem operar, com bons resultados, desde que acompanhadas de forma adequada.
Por outro lado, lesões traumáticas, com bloqueios ou instabilidade, principalmente em pacientes jovens, muitas vezes se beneficiam de uma conduta cirúrgica precoce, com maior chance de preservar a função meniscal a longo prazo.
As lesões que não melhoram a sintomatologia após adequada reabilitação também são possíveis de serem tratadas cirurgicamente.
É importante ter uma avaliação criteriosa com um especialista em joelho, que poderá examinar adequadamente o joelho e analisar os exames complementares para definir o plano de tratamento ideal e acompanhar sua recuperação.
Referências:
Beaufils P, et al. ESSKA consensus on management of degenerative meniscus lesions. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc. 2017;25(2):335–346.
Katz JN, et al. Surgery versus physical therapy for a meniscal tear and osteoarthritis. N Engl J Med. 2013;368:1675–1684.
Abram SGF, et al. Time trends and variations in the use of arthroscopic meniscal surgery: a population-based study of 200,000 patients. Br J Sports Med. 2020;54(11):664–670.
Thorlund JB, et al. Arthroscopic surgery for degenerative knee: systematic review and meta-analysis of benefits and harms. BMJ. 2015;350:h2747